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Congresso do Peru derruba a presidente Dina Boluarte e chefe do Parlamento assume cargo

Afastamento foi aprovado em votação unânime por ‘incapacidade moral’. Boluarte é alvo de graves acusações de corrupção. ‘Não pensei em mim mesma, mas nos peruanos’, disse em pronunciamento.

O Congresso do Peru aprovou, na madrugada desta sexta-feira (10), o afastamento da presidente Dina Boluarte. Ela é acusada de “incapacidade moral”. A votação foi unânime para “sim”.

O novo presidente é o atual chefe do Congresso, José Jerí. Ele assumiu a presidência interinamente em cerimônia realizada logo após a votação.

O pedido de afastamento aprovado menciona graves acusações de corrupção contra Boluarte, incluindo o caso “Rolexgate”, que investiga uma coleção de relógios de luxo não declarados. O texto foi assinado por 34 congressistas de diferentes partidos.

Em discurso, Jerí disse que tem o objetivo de fazer um governo de reconciliação e declarou guerra contra o crime. “O principal inimigo está lá fora, nas ruas: as gangues criminosas”, afirmou.

Ele tem 38 anos e é membro do partido conservador Somos Peru. Jerí será o sétimo presidente do país desde 2016.

As novas eleições estão marcadas para abril de 2026. O mandato de Boluarte terminaria em 28 de julho de 2026. Jerí afirmou que defenderá a soberania do Peru e entregará o poder ao vencedor das eleições de abril.

Multidões se reuniram do lado de fora do Congresso, em Lima, e da embaixada do Equador, onde havia especulações de que Boluarte poderia pedir asilo. Segundo a agência de notícias Associated Press, havia pessoas em clima de celebração, com bandeiras, danças e instrumentos musicais.

Após a votação, Boluarte fez um pronunciamento destacando as conquistas de sua administração:

“Não pensei em mim mesma, mas nos peruanos”, disse ela.

Boluarte tem 63 anos e assumiu a presidência em dezembro de 2022, após a destituição e prisão de Pedro Castillo, que havia tentado dissolver o Congresso. A queda de Castillo provocou meses de protestos violentos, especialmente em regiões andinas e comunidades indígenas, reprimidos com violência pelo governo, segundo organizações de direitos humanos.

Boluarte enfrentou forte rejeição popular — sua aprovação varia entre 2% e 4% — e responde a denúncias de enriquecimento ilícito. Em julho, ela dobrou o próprio salário, o que ampliou as críticas ao governo.

Nos três primeiros meses do governo de Boluarte, ocorreram mais de 500 protestos exigindo sua renúncia.

Na quarta-feira (8), ela culpou parcialmente a situação pela presença de imigrantes ilegais no país. “Esse crime vem se formando há décadas e foi fortalecido pela imigração ilegal, que governos anteriores não conseguiram combater”, disse ela durante uma cerimônia militar.

Dados oficiais mostram que 6.041 pessoas foram assassinadas entre janeiro e meados de agosto, o maior número para esse período desde 2017. Já as denúncias de extorsão totalizaram 15.989 entre janeiro e julho, um aumento de 28% em relação ao mesmo período de 2024.

Na noite de quinta (9), o Parlamento realizou uma sessão para votar o debate sobre o afastamento de Boluarte. Na mesma sessão, foi aprovada a convocação da presidente para se defender quando a moção fosse votada. Ela não compareceu.

O atual Congresso, de maioria conservadora, havia barrado tentativas anteriores de impeachment, mas demonstrou maior apoio ao afastamento em meio ao clima político tenso e à aproximação das eleições gerais marcadas para abril de 2026.

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