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Divaldo Franco, referência do espiritismo no Brasil, morre aos 98 anos em Salvador

Um dos maiores expoentes do espiritismo no Brasil, Divaldo Franco, faleceu nesta terça-feira (13), aos 98 anos, em Salvador. O médium estava em tratamento contra um câncer de bexiga desde novembro do ano passado e veio a óbito em decorrência de falência múltipla dos órgãos.

Nascido em Feira de Santana, cidade situada a aproximadamente 100 km da capital baiana, Divaldo dedicou mais de sete décadas ao espiritismo, construindo um legado de solidariedade e ensino. Em 1952, ele fundou a Mansão do Caminho, localizada no bairro Pau da Lima, em Salvador. O espaço, que começou como um abrigo para crianças em situação de vulnerabilidade, evoluiu para um complexo educacional que oferece desde creche até ensino médio, além de cursos profissionalizantes e atendimento de saúde.

Durante sua trajetória, Divaldo foi considerado um “pai” para cerca de 685 jovens, que encontraram na Mansão do Caminho um lar e uma oportunidade de futuro. Mesmo sem filhos biológicos, seu trabalho transformou vidas e inspirou gerações.

A partir da década de 1960, Divaldo ampliou as atividades da Mansão do Caminho, criando escolas, oficinas profissionalizantes e serviços médicos. Esses projetos são mantidos por meio da venda de seus livros e gravações de palestras. O médium escreveu mais de 250 obras mediúnicas, muitas delas psicografadas com histórias de diferentes espíritos. Em 2015, sua vida e obra foram registradas em uma biografia assinada pela jornalista Ana Landi.

Divaldo nasceu em 5 de maio de 1927, sendo o caçula de 13 irmãos. Desde a infância, demonstrou sinais de mediunidade, embora essa característica tenha sido motivo de conflitos dentro da própria família. Segundo relatos, seus pais, sem compreender as visões que ele relatava, interpretavam seus dons como algo negativo, o que resultou em reprimendas e dificuldades de aceitação.

A situação mudou quando Divaldo, ainda jovem, enfrentou um grave problema de saúde. Após inúmeras tentativas de tratamento sem sucesso, uma médium foi chamada para visitá-lo, identificando o espírito obsessor que o atormentava e reconhecendo seu potencial mediúnico. Esse episódio marcou o início de sua trajetória no espiritismo.

Além de seu trabalho educacional e espiritual, Divaldo idealizou o movimento ecumênico “Você e a Paz”, em 1998. O evento, que ocorre anualmente em Salvador e em diversas cidades do Brasil e do mundo, promove a união e a solidariedade entre diferentes religiões, sem vínculo político ou religioso específico.

Atualmente, o movimento se espalha por 75 cidades em 14 países. No Brasil, a iniciativa está presente em 60 municípios de 12 estados. Em sua última edição, realizada em 2024, artistas como Ivete Sangalo e Carlinhos Brown participaram da celebração. Devido ao tratamento contra o câncer, Divaldo não pôde estar presente, mas deixou uma mensagem gravada que foi exibida ao público.

O velório de Divaldo Franco será aberto ao público e acontece no ginásio de esportes da Mansão do Caminho, nesta quarta-feira (14), das 9h às 20h. Atendendo ao seu pedido, a cerimônia será breve, sem cortejo em carro aberto e com o caixão fechado. O sepultamento está marcado para as 10h de quinta-feira (15), no Cemitério Bosque da Paz.

Com um legado marcado pela caridade, pela educação e pela espiritualidade, Divaldo Franco deixa um exemplo de amor ao próximo e dedicação ao espiritismo. Seu trabalho, materializado em milhares de jovens educados e em centenas de obras publicadas, permanece como um marco na história da doutrina espírita no Brasil.

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