Governo, empresários e senadores preparam “última cartada” contra tarifaço
Ações incluem manifestação da US Chamber, anúncio de US$ 7 bilhões em investimentos brasileiros nos EUA e reunião com senador americano que quer “esmagar” o Brasil
O governo brasileiro, empresários e senadores preparam uma “última cartada” na tentativa de evitar a aplicação do tarifaço de 50% anunciado por Donald Trump. A aplicação das tarifas está prevista para 1º de agosto. A pouco mais de uma semana do “Dia D”, o setor privado articula pelo menos duas iniciativas que têm como objetivo sensibilizar a Casa Branca:
O anúncio de US$ 7 bilhões em investimentos produtivos de multinacionais brasileiras nos Estados Unidos. Não são projetos necessariamente novos, mas um compilado de ações em andamento ou planejadas para os próximos anos. A ideia é mostrar para Trump que o Brasil já tem levado empregos para o país. O movimento está sendo pensado pelo Fórum de CEOs Brasil-Estados Unidos, que conta com 12 líderes empresariais de cada lado.
Uma nova carta da US Chamber of Commerce, maior entidade empresarial dos Estados Unidos, com um apelo para que as tarifas não passem a valer e detalhando os potenciais danos à própria economia americana. A US Chamber já divulgou uma primeira carta na semana passada.
Além disso, a comitiva de senadores brasileiros que vai para Washington no domingo (27) tem uma série de reuniões pedidas com políticos republicanos com acesso a Trump e que podem ajudar no convencimento de não taxar o Brasil. Um dos encontros solicitados é com o senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, que tem proximidade com o presidente americano e é um dos maiores defensores de aplicar tarifas adicionais para países que comercializam com a Rússia.
Nesta segunda-feira (21), Graham defendeu “esmagar as economias” de quem compra “petróleo russo barato”. Ele citou Brasil, Índia e China. Os senadores — uma comitiva formada por Nelsinho Trad (PSD-MS), Jaques Wagner (PT-BA), Tereza Cristina (PP-MS), Marcos Pontes (PL-SP), Rogério Carvalho (PT-SE) e Fernando Farias (MDB-AL) — querem levar uma mensagem para Graham e outros congressistas.
O recado é que, se os Estados Unidos optarem por um tarifaço contra o Brasil, podem aumentar a influência da China na economia local e jogar o país cada vez mais no colo dos asiáticos — provocando o efeito contrário do desejado.
Os senadores também vão encontrar altos executivos de multinacionais americanas, como a Corteva, que pretendem se colocar como aliados do Brasil no tarifaço.
A Corteva é uma união da Dow, DuPont e Pioneer para a venda de sementes agrícolas. Tem o Brasil como um dos principais mercados e vê com apreensão, segundo relatos, a possibilidade de que o governo Lula retalie os Estados Unidos com uma quebra de patentes de suas sementes. Por isso, tem interesse em uma solução negociada entre os dois países.
Finalmente, o governo tem se esforçado em fazer chegar aos americanos que há abertura para negociar alguns pontos de enorme interesse da Casa Branca:
- Fornecimento seguro de minerais críticos;
- Aceleração do registro de patentes farmacêuticas pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI);
- Redução da tarifa aplicada pelo Brasil — atualmente em 18% — sobre o etanol importado, que afeta a competitividade do etanol de milho americano.