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Homem morre asfixiado após ser trancado em viatura com gás

Genivaldo de Jesus Santos, o homem negro trancado com gás no porta-malas de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em Umbaúba, no sul de Sergipe, morreu por asfixia, segundo análises preliminares do Instituto Médico Legal (IML).

“Foi identificado de forma preliminar que a vítima teve como causa mortis insuficiência aguda secundária a asfixia. A asfixia mecânica é quando ocorre alguma obstrução ao fluxo de ar entre o meio externo e os pulmões. Essa obstrução pode se dar através de diversos fatores e nesse primeiro momento não foi possível estabelecer a causa imediata da asfixia, nem como ela ocorreu”, informou o IML. Após a conclusão dos trabalhos, os laudos serão remetidos à delegacia de Polícia Federal.

Entenda o caso

A vítima, de 38 anos, foi abordada na tarde de quarta-feira, 25, imobilizada e colocada no interior do compartimento da viatura da PRF. Em seguida, segundo testemunhas, os policiais lançaram um gás sobre a vítima e trancaram o porta-malas.

Segundo familiares, o homem sofria de transtornos mentais. A PRF afirma que a vítima resistiu à abordagem e precisou ser contida com armas não letais.

Um sobrinho de Genivaldo contou que o tio foi abordado na Rodovia BR-101 quando pilotava uma motocicleta. Os policiais pediram que ele colocasse as mãos para o alto e, durante a revista, o questionaram sobre algumas cartelas de comprimidos achadas em seu bolso. Segundo o sobrinho, o tio tomava medicamentos.

Genivaldo ficou nervoso e questionou os policiais, que fizeram uso de spray pimenta e o colocaram no porta-malas do camburão. Ainda conforme a testemunhas, foi nesse momento que os agentes lançaram outro tipo de gás contra o homem, que já havia sido colocado no porta-malas.

Genivaldo foi levado para a delegacia da Polícia Civil, onde foi constatado que a vítima estava desacordada. O homem ainda foi levado a um hospital, mas não resistiu. O corpo foi levado para perícia no IML de Aracaju.

A família registrou boletim de ocorrência na delegacia de Umbaúba. Familiares da vítima e testemunhas já foram ouvidas, mas, por envolver agentes federais, a investigação deve ser repassada à Polícia Federal.

Genivaldo morreu em maio deste ano, depois de ter sido trancado no porta-malas de uma viatura da PRF e submetido a inalação de gás lacrimogêneo, na BR-101. A certidão de óbito concedida pelo Instituto Médico-Legal (IML) à família apontou asfixia e insuficiência respiratória como causas da morte.

Os investigados no caso são os policiais Kleber Nascimento Freitas, Paulo Rodolpho Lima Nascimento e William de Barros Noia. O relatório da PF foi encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF), que é responsável por apresentar a denúncia à Justiça.

“Esperamos que seja realmente cumprido. Estamos lutando por justiça, sabemos que não vai trazer a vida dele de volta, mas lutamos para não acontecer com outras pessoas e que outras famílias não passem por essa dor”, disse Walisson de Jesus Santos, sobrinho da vítima.

O MPF confirmou o recebimento do relatório do inquérito e informou que tem, por previsão no Código de Processo Penal, 15 dias para análise e apresentação de denúncia (art. 46 do CPP). Um posicionamento sobre o caso e documentos só irão ser divulgados pelo MPF quando a ação criminal for ajuizada.

“O coração da gente ainda não amenizou o sofrimento, o que a gente quer é a prisão dos assassinos”, disse Damarise de Jesus Santos, irmã de Genivaldo.

Os agentes envolvidos diretamente na abordagem foram afastados das funções pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), que afirmou que não compactua com as medidas adotadas pelos policiais durante a abordagem.

Os três policiais já prestaram depoimento à Polícia Federal, além de outros dois agentes que assinaram o boletim de ocorrência, mas não participaram da ação.

A Justiça Federal em Sergipe negou o pedido de prisão dos três policiais rodoviários federais envolvidos na abordagem. O pedido foi feito pela defesa da família da vítima, que ainda não se manifestou sobre a decisão.

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