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Sem investimentos, maior herbário de São Paulo e terceiro do Brasil está ameaçado

O maior herbário de São Paulo e terceiro do Brasil, onde estão catalogadas cerca de 550 mil amostras de plantas, das quais mais de 300 mil disponíveis para consulta online, está ameaçado pela falta de investimentos. Localizado no Jardim Botânico, zona sul de São Paulo, o Herbário “Maria Eneyda Pacheco Kauffmann Fidalgo” reúne coleções do Instituto de Botânica, instituição secular extinta em 2021, pelo então governador João Doria. 

Os prédios que guardam exemplares de plantas coletadas por pesquisadores desde o século XIX estão com problemas graves de infraestrutura.  

Vídeos gravados no local e divulgados pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) mostram salas sendo invadidas pela água durante as chuvas da última semana.  

“Além de extinguir uma instituição centenária, herbário de São Paulo, de valor inestimável para o Brasil, encontra-se negligenciado pelo Estado, ocupando um prédio dentro de um parque concedido à iniciativa privada, sem receber a manutenção adequada”, afirma Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC. “Seu acervo reúne a documentação original da flora do Estado de São Paulo, essencial para o desenvolvimento dos mais variados estudos que envolvem plantas, desde florísticos até genômicos, que nos revelam os mistérios da biodiversidade”. 

O conhecimento produzido ao longo dos anos pode orientar novas descobertas, inclusive na área da saúde. 

“Quando um cientista descobre propriedades úteis em uma determinada espécie, as informações valiosas sobre o tipo de clima e de vegetação em que ela melhor cresce, e onde pode ser encontrada na natureza, estão anotadas nos rótulos, que são parte integrante das amostras dos herbários”, cita Inês Cordeiro, vice-presidente da APqC. 

Além de alagamentos, os servidores que ainda atuam na estrutura do Instituto de Botânica enfrentam dificuldades como a instabilidade da rede elétrica, internet e telefonia. A Reserva Paulista, que venceu a concorrência do Jardim Botânico e do Zoológico, também é responsável pela manutenção de todos os prédios da área de pesquisa, segundo a APqC.  

“Essa sobrecarga com que o Governo do Estado ‘presenteou’ a concessionária, tornou os pesquisadores do Jardim Botânico uma pedra nos sapatos da concessionária. Se já é difícil oferecer um serviço de qualidade para os visitantes do Jardim Botânico, como demonstraram reportagens publicadas na imprensa, suprir as necessidades de instalações de pesquisa é tarefa ainda mais complicada”, reforça a vice-presidente da APqC. 

Para que haja autonomia na gestão do acervo e a continuidade da pesquisa científica pública e de qualidade, a APqC defende a recriação do Instituto de Botânica, bem como dos Institutos Florestal e Geológico, além da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), extintos na mesma lei. Segundo a associação, como prova da negligência do Estado com a ciência, São Paulo tem hoje oito mil cargos vagos para pesquisa científica e carreiras de apoio. 

“Todo este cenário demonstra a displicência das políticas de vários governos estaduais para com a ciência no Estado de São Paulo. É um processo de asfixia, que começa com a desvalorização do pesquisador servidor público, falta de concursos e, por fim, no sucateamento de toda uma infraestrutura de pesquisa. E no caso da estrutura do Instituto de Botânica, como golpe de misericórdia, relegar a zeladoria de prédios de pesquisa a uma concessionária sem experiência na área de pesquisa ou conservação da biodiversidade”, finaliza Lutgens. 

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